Jacques Lacan pensou a depressão do ponto de vista ético. Dessa maneira, Lacan ressalta que é preciso entender o sujeito na sua emoção triste ou depressiva levando em conta que este sujeito é sujeito da escolha e por isso responsável pelo seu desejo. Ao falar de depressão, do afeto triste, Lacan empresta termos de Spinoza, para referir a impotência do ser falante em transformar o sofrimento da tristeza que torna a alma presa a ideias inadequadas, que nada quer saber da verdade do seu desejo.
A depressão, na clínica lacaniana, é, portanto, considerada como uma paixão da alma, um afeto, passível de se manifestar na vida cotidiana de um sujeito mediante a perda, o acaso, a surpresa, que deve ser verificada no um a um da experiência analítica. A depressão evoca uma posição do sujeito de fuga, de não querer saber daquilo que o afeta. Notadamente, em Le Seminaire: le désir et ses interpretations, é que Lacan, em 1959, desenvolve a questão, tratando essa dor como consequência do existir no império da linguagem, ao qual está destinado todo ser humano e que emerge quando o desejo se retrai e avança o gozo da pulsão de morte. No primeiro ensino de Lacan, essa dor é tratada como consequência do existir no império da linguagem, condição do inconsciente, para mostrar a articulação significante com sua lógica, a descrição de estrutura, do Outro, da dialética do sujeito.
A angústia na relação com o outro
Por outro lado, a angústia é entendida pela formulação lacaniana como “aquilo que não se engana”, que pode ser situada entre uma distância entre o lugar da falta em sua relação com o desejo, como estruturado pela fantasia, pela vacilação do sujeito em sua relação com o objeto parcial. A angústia cria a verdade da falta. Ou seja, a angústia é certamente um sinal de que o sujeito cedeu alguma coisa de si mesmo, alguma coisa dali em diante impensável e inacessível que só continuará a ser atestada pela experiência da falta. Ela desafia qualquer objeto a dissimular a divisão constitutiva do sujeito, o que só faz evidenciar a impossibilidade do acesso à certeza da causa última.
Testemunha de um tempo passado aquém da castração, caracterizado pela atualização de um gozo indefinido, a angústia designaria ainda o momento de divisão do sujeito não somente invocará um referente que lhe escapa, mas constituirá ainda para si uma imagem espelhada do Outro. A isso Lacan chamou de alienação ao Outro. A angústia tem origem na dialética do desejo, que não cessará de fazer o sujeito perguntar a si mesmo sobre o que ele representa para o desejo do Outro, Lacan chega à elaboração de que o próprio fato de se desejar acarreta o perigo do conflito mortal com o desejo inefável do Outro superpotente. Para exemplificar a relação do sujeito com o desejo, Lacan usa a metáfora do louva-a-deus: um indivíduo encontra-se diante de um louva-a-deus gigante que o fita diretamente. Sabendo que a fêmea do louva-a-deus costuma devorar seu parceiro durante os jogos amorosos, a angústia do sujeito é a de não saber ao certo quem mesmo ele é e que lugar ocupa em relação ao desejo onipotente do louva-a-deus gigante, potencialmente mortal. A causa da angústia é sempre a perda do objeto de amor, do falo e é em Lacan, retomando Freud, não uma emoção e sim um afeto, ou seja, que o sujeito está afetado em suas relações com o Outro.
LACAN, J. Angústia, signo do desejo. In: LACAN, Jacques,
O Seminário, livro 10. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
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