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Foto do escritorGisele Chiappim Psicóloga

SEXUALIDADE INFANTIL


Falarei sobre as fases pré-genitais, que é o termo usado na psicanálise para qualificar as pulsões que transitam pelo nosso sistema neurológico antes da consolidação sexual do ser humano. Chamamos de pulsão o transporte de energia pelo nosso sistema neurológico.

Sexualidade infantil é a evolução da libido, energia de vida que todos temos, e durante o desenvolvimento da crianças, não se restringe somente a sexualidade, mas também à sua personalidade.

Embora a sexualidade se expresse no corpo, ela não se limita a ele. Muito da expressão sexual humana se dá em nosso mundo interno, através de fantasias inconscientes que ficam “esquecidas” (recalcadas) e, por isso, difíceis de serem acessadas. Porém, na vida cotidiana, são as manifestações que se dão no corpo ou através dele que nos chamam a atenção, especialmente quando o corpo é de uma criança. Seja pela fala, brincadeiras ou manipulações genitais, não é incomum o adulto se surpreender e reagir diante das questões e comportamentos sexuais das crianças de um jeito que não as ajuda a dar sentido às suas indagações e experiências. Repreender a criança, mudar de assunto, fingir que nada está acontecendo ou aconteceu, ou ainda, entrar em desespero por achar que a criança “aprendeu aquilo com alguém” são alguns exemplos dessas reações.

Quando o adulto é tomado por alguma manifestação sexual da criança, é preciso que ele faça o exercício de distinguir o que é expressão da sexualidade infantil (o que é esperado em cada etapa do desenvolvimento da sexualidade humana na infância) e o que pode ser expressão da sexualidade adulta na criança ( erotização precoce e abuso sexual). Também, é preciso discriminar minimamente o que diz respeito as dificuldades que são do adulto e não da criança (por exemplo, falar sobre a sexualidade). Ao separar o que é do adulto e o que é da criança, conseguimos, inclusive, avaliar se há algo no comportamento da criança que pode sinalizar a necessidade de maior atenção ou intervenção profissional – situações em que a criança expressa através de comportamentos sexuais, sintomas de algum sofrimento ou estimulo sexual improprio para sua idade.

Seguem as principais manifestações da sexualidade infantil e alguns comportamentos aos quais precisamos estar atentos. As idades referidas são sempre aproximadas, já que cada criança se desenvolve num ritmo próprio.


Até aproximadamente os 2 anos de idade - o bebê sente prazer, segurança e conforto ao ser carinhosamente cuidado. Aos poucos, a partir dessa experiência afetiva, ele busca repetir a vivência prazerosa de, por exemplo, sugar o dedo, a chupeta, um pedaço de pano, um brinquedo, em lugar do seio ou mamadeira. Não à toa, ele leva tudo a boca!

Embora o prazer do bebê se concentre na região bucal, ele vai encontrando prazer em outras partes de seu corpo, inclusive nos genitais.

Para ficar de olho: quando o bebê demonstra apatia, irritabilidade, muito sono, desinteresse pelas coisas ao seu redor e só encontra conforto e segurança no colo, seio, mamadeira ou chupeta.

Entre os 2 e 3 anos, ou a partir do momento em que passa a controlar os esfíncteres, a criança experimenta o prazer anal com a retenção das fezes. Mas do que controle muscular, o controle dos esfíncteres indica controle sobre o próprio corpo, o que confere a criança mais autonomia e, portanto, um domínio maior sobre o ambiente (as birras desta fase revelam que a criança quer que seu desejo prevaleça sobre o ambiente). Sem as fraldas, a crianças “descobre” seu genital e ânus divertindo-se ao manipulá-los e exibi-los


sem que tenha nenhuma inibição com seu corpo ou o corpo de outra pessoa. Com sua energia focada na zona anal, as crianças diminuem seu investimento da região oral, o que faz com que grande parte delas perca o interesse pela amamentação, mamadeira ou chupeta, quando fazem uso delas.

Para ficar de olho: quando a criança não contesta o ambiente ou o contesta em demasia, a ponto de comprometer atividades de seu dia a dia; quando apresenta pouca autonomia para as coisas que já poderia fazer na sua idade, tirar sua própria roupa, guardar seus brinquedos, entre outros; quando apresenta apatia ou hiperatividade (sexual ou não).

Entre os 3 e 6 anos, as crianças manifestam a sexualidade através da curiosidade sexual. A partir do momento em que começam a tecer suas próprias hipóteses sobre a origem da vida, passam a perguntar sobre ela (e na sequencia sobre seu fim, a morte) e uma série de porquês. O desejo de saber, que nasce com a curiosidade sexual, é motor da aprendizagem, sendo por isso tão importante para que as perguntas das crianças possam ser escutadas e respondidas, na medida em que vão surgindo, de forma verdadeira, clara e objetiva.

Nesta faixa etária, as crianças exploram o próprio corpo e desejam explorar o corpo do outro. Como “vem com as mãos”, querem tocar no genital alheio pela curiosidade e não pela atração sexual, como ocorre a partir da adolescência. Aqui, cabe ao adulto apresentar as regras sociais que determinam as esferas pública e privada, e o que é permitido ou não fazer com o próprio corpo e o que pode ou não fazer no corpo de outrem. Também, cabe ao adulto confirmar para a criança que o prazer genital existe; afinal, ela sabe disso, mas espera que o adulto em que ela confia possa validar sua constatação. As brincadeiras sexuais infantis incluem a imitação do mundo adulto (barriga de gravida, amamentar boneca, passar maquiagem, etc., independente do sexo da criança), podendo acontecer com a criança sozinha ou com seus pares (crianças da mesma idade). Os namoricos infantis, nomeados pelos adultos e não pelas crianças (pois nesse caso, trata-se da expectativa do adulto em relação a crianças), quando ocorrem, referem-se a uma afeição especial a uma criança e não a atração sexual, que só estará presente com a entrada na adolescência (mesmo na puberdade, o namoro está relacionado a expectativa dos pares e não ainda ao desejo sexual pelo outro).

As crianças deste grupo etário também percebem as diferenças sexuais e querem saber sobre elas. Crianças de ambos os sexos acreditam que o pênis é o genital universal, isto é, as meninas o terão num futuro breve ou o perderam. Se de um lado as meninas invejam o pênis, de outro, os meninos temem perdê-lo. O temor da castração que se dá em nível inconsciente, somado ao ciúme que as crianças têm do relacionamento dos pais, faz com que muitas receiem e, ao mesmo tempo, se tranquilizem, com histórias de lobos, bruxas, monstros e afins. Pelo mesmo motivo, pesadelos com conteúdo hostis e destruidores costumam ser frequentes, levando muitas crianças a migrarem para o quarto dos pais, inclusive na tentativa de separá-los no meio da noite (as crianças têm suas próprias hipóteses sobre o que os pais fazem na cama).

Para ficar de olho: quando a exploração no próprio corpo e no corpo do outro torna-se intensa e frequente , ganhando uma dimensão na vida criança que a faz perder o interesse por outras atividades. No caso da masturbação, ela deixa de acontecer de um jeito distraído, leve (antes de dormir, assistindo tv, quando ela está brincando ou relaxada, com cara de que “está gostosinho de mexer no genital”) e passa a acontecer no lugar de atividades corriqueiras da criança e com vigor que a leva, por exemplo, a “virar os olhos”, se machucar com o uso de objetos. No que se refere ao interesse pelo corpo do outro, a criança insiste em repetidas explorações no corpo de seus pares e/ou no corpo de pessoas mais novas ou mais velhas do que ela, mesmo com os limites sociais sendo colocados e suas perguntas sendo respondidas.

Dos 6 até a entrada na puberdade: a criança muda a relação com seu corpo: ela tem autonomia sobre, em especial no que tange aos cuidados de higiene, e por isso, pede privacidade com a exposição corporal e com as questões da sexualidade. A energia sexual desta fase é predominantemente direcionada a outros interesses da criança, como as atividades escolares e extraescolares.

Para ficar de olho: quando a criança apresenta alguns dos aspectos anteriormente apontados e/ou dificuldade no processo de aprendizagem, expressão das emoções e socialização. Diante das manifestações sexuais da criança, compete ao adulto, manter-se a uma distancia da criança que a permita expressar sua própria sexualidade com segurança e ao mesmo tempo mostra-lhe os limites impostos pela cultura. Quando comportamentos que fogem ao esperado em cada etapa do desenvolvimento infantil surgem é preciso buscar ajudar profissional, já que estes comportamentos podem estar sinalizando a presença de sofrimento, quer seja de ordem sexual ou não.


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