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Análise psicanalítica do filme "A invenção de Hugo Crabet."




"A invenção de Hugo Cabret" é mais do que uma aventura infanto-juvenil: é uma obra carregada de simbolismos sobre identidade, memória, perda e o inconsciente. Hugo, o protagonista, vive escondido nos bastidores de uma estação de trem, consertando relógios e um autômato — herança deixada por seu pai. O enredo nos convida a olhar para além da superfície e refletir sobre o que motiva esse menino solitário.


O autômato como representação do inconsciente

Na perspectiva psicanalítica, o autômato simboliza o inconsciente de Hugo. Ele é a herança do pai (figura simbólica e estruturante), e está "quebrado", ou seja, o inconsciente está em disfunção desde a perda. Hugo acredita que, consertando o autômato, encontrará uma mensagem do pai — uma tentativa inconsciente de elaboração do luto.

A busca por peças para consertar o autômato é a metáfora para o processo terapêutico: reunir fragmentos para construir sentido.


A função paterna e o lugar da falta

Com a morte do pai, há uma ausência simbólica que marca profundamente a identidade de Hugo. Ele tenta ocupar um lugar de função, reparando o que foi deixado, mas vive à margem, escondido — o que remete ao sentimento de desamparo primordial descrito por Freud.

A estação de trem, com seus mecanismos e ritmos, pode ser lida como uma metáfora do Superego — um sistema que impõe regras, horários, deveres — contra os quais Hugo luta para preservar sua individualidade e desejo.


Isabelle e a descoberta do Outro

Isabelle surge como representação do Outro — o laço social. É com ela que Hugo compartilha sua dor, sua busca, e finalmente começa a elaborar seus afetos. A entrada de Isabelle simboliza a possibilidade de resgate do desejo e a abertura para o mundo exterior.


Georges Méliès: o retorno do recalcado

O personagem de Méliès, esquecido e amargurado, representa o passado reprimido. Quando Hugo ajuda a recontar sua história e recuperar seu lugar como artista visionário do cinema, ele promove também uma reparação simbólica do próprio pai, ajudando Méliès a ressignificar sua dor.

O cinema, nesse sentido, é a arte que revela o inconsciente coletivo, trazendo à tona o que foi recalcado.


Conclusão

"A Invenção de Hugo Cabret" é uma narrativa sobre a importância do olhar (do Outro), do reconhecimento e da reconstrução da subjetividade. Através da lente psicanalítica, o filme nos convida a refletir sobre a busca pela identidade, o luto, a função paterna e a potência do desejo humano.

 


 
 
 

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